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Malazartes, o herói de si mesmo

  • Foto do escritor: Renan Novais
    Renan Novais
  • 10 de jun.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 10 de jun.

A figura popular de Pedro Malazartes, que tem suas origens em Portugal, mas que ganha força nos contos caipiras e folclóricos do Brasil, é trazida agora aos palcos de rua pela Casa Realejo de Teatro, que realizaram uma pequena temporada na Praça Belém da Serra, conhecida popularmente como Praça do Coreto na cidade de Francisco Morato, entregando ao público, uma montagem popular, repleta de músicas e com personagens já bem definidos pela nossa imaginação.

Ruth Guimarães, autora preta, paulista e figura importante na literatura brasileira, foi quem registrou em livro as peripécias de Pedro Malazartes, trazendo diversos contos que foram passados de geração em geração de forma oral, e que por ela, puderam ser eternizados na escrita, podendo as trapaças de Pedro Malazartes contra os malfeitores, trapaceiros e ladrões, alcançar um maior número de pessoas e nos apresentar personagens populares de um cenário brasileiro que representam não só a nossa gente, mas a nossa cultura e nossa identidade nacional. Pedro Malazartes, com “Z” mesmo, que foi como Ruth decidiu chamá-lo, e como a Casa Realejo de Teatro mantém, já esteve em diversas adaptações fora da literatura. Sua figura já apareceu no cinema, no teatro, na televisão e no rádio, entre elas se destacam: As Aventuras de Pedro Malasartes, de 1960, atuado e dirigido por Mazzaropi, o recente Malasartes e o Duelo com a Morte, que também virou uma série de três episódios na televisão e até uma versão feita pelo comediante Didi no fim dos anos 1990. 

A montagem da Casa Realejo de Teatro nos transporta para longe das capitais, para dentro dos nossos interiores do sul e sudeste brasileiro, num cenário áspero, onde a cor da terra cobre todas as outras cores e o chão é coberto por umas vasta serragem. É a mesma terra que cobre os figurinos deixando todos com tons amarronzados, inclusive os olhos. No fundo, fincado a um chão seco que implora por água, os restos ósseos de uma cabeça de gado, lembrança constante de uma terra onde falta muito, menos a urgência de viver, é nesse cenário que somos apresentados a Pedro Malazartes, habitante dessa geografia que por tanta escassez, precisa trapacear pra sobreviver. E não pouco, Pedro encontra pelo seu caminho personagens que possuem muito numa terra de nadas, e que apesar de dinheiro e riquezas, carecem de inteligência, esperteza e empatia. Aqui a trapaça se justifica, a torcida é para que ele, Malazartes, consiga, tenha triunfo, se safe, pois no fundo somos um pouco ele, buscamos a sobrevivência e desejamos mais igualdade para todos.

A dramaturgia de Eduardo Bartolomeu, integrante desde o começo da Casa Realejo de Teatro, em 2014, nos apresenta um grupo de itinerantes, figuras desse lugar-interior que serão os condutores das narrativas da astúcia e peripécias de Pedro Malazartes, que utiliza de diversos artifícios como a imaginação, esperteza e malandragem para poder se dar bem às custas de outros, e nos conta, das formas mais cômicas possíveis, as arriscadas artimanhas que faz contra aqueles que propagam a desumanidade, sempre problematizando questões como a injustiça e desigualdade social. 


Créditos: Marx Deganelli
Créditos: Marx Deganelli

Nas mãos da diretora Flávia Bertinelli esses itinerantes se dividem entre as personagens de Pedro e seus adversários, que aqui se utilizam de um recurso antigo do teatro de commedia dell’arte, as máscaras, que deslocam a ação do mundo cotidiano tornando o objeto um indivíduo e geram identificação lhes empregando características já pré definidas pelas suas expressões, seguidas pelos movimentos corporais do sujeito que a compõe, tornando as personagens em arquétipos, que antes de agirem ou nos dizerem qualquer coisa, nós já as conhecemos. E os músicos que acompanham toda a trajetória do espetáculo cantando as passagens desse povo viajante e dos causos de Pedro e que interagem minuciosamente nas cenas e movimentos dos atores, utilizando instrumentos musicais e diversos objetos, como um molho de chaves, cascas de coco e tampas de garrafa, comicizando a cena trazendo uma camada sonora quase cartunesca às ações. 

É nesse conjunto que combina harmonicamente cenário, músicas e ótimos personagens, como um Malazartes que nada tem além de sua astúcia para poder comer e sobreviver a mais um dia, que o espetáculo se desenrola. É na breve interação com o público que somos convidados a refletir quem é esse Malazartes e se nós o conhecemos. Conhecemos? Quem hoje precisa, nas mais diversas circunstâncias, passar a perna no outro para poder acessar o mais básico do ser humano?

Ver artistas da nossa região levando um trabalho tão afinado para nossa população, gerando encontros, reflexões, debates e diversão através do teatro, é um grande fôlego para os nossos pulmões que anseiam por respirar cultura, ainda mais na nossa casa, na nossa praça. É através dessas trocas que nós nos fortalecemos cada vez mais enquanto povo e cultura. Malazartes, da Casa Realejo de Teatro é a escolha certa para levar as crianças e com certeza as tias, a avó, os primos, as primeiras para conhecer e as outras para relembrar e se divertir com essa figura tão esperta e malandra da nossa cultura popular brasileira. 

Vamos juntos, pois é pelo nosso chão que a gente caminha. 



SOBRE O ESPETÁCULO


SINOPSE: Um bando de tropeiros atravessa a mata e precisa descansar. Ali, entre risos, muxoxos e brincadeiras, ao pé da fogueira, conta e vive histórias de Pedro Malazarte, cheias de embruiagens, contadas entre canções e referências da dança do catira. Com elas nos perguntamos: aonde está Malazarte, “o semvergonho”, no nosso mundo atual?


EQUIPE: Danilo Pique, Eduardo Bartolomeu, Flávia Bertinelli, Karla Pê, Pamela Gomes e Mário Deganeli

Duração: 45 minutos

Classificação etária: Livre


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